Seu Antonio: fala mansa, de quem gosta de longas histórias. Foto: Renato Rizzaro |
Seu Antonio do Boto fez questão de levar a gente lá pro meio da várzea, num fim de tarde luminoso de outubro de 2012, longe do agito da vila, e nos presenteou com um pedaço do seu coração. Precisava falar com quem prestasse atenção em suas palavras singelas, transbordantes de carinho com animais, plantas e sua Natureza, enfim. Contou um pouco da vida, da paixão pelos bichos e das conversas com o boto-rosa.
Tem a fala mansa, de quem gosta das longas histórias, profundas e bem contadas, como as que ouvimos dos índios. Tem paciência para a pausa, tal como quem faz boa música e paciência para a pesca, de onde vem a comida para sua família, uma grande família!
Paciência Igapó-açu tem de sobra, por estar no meio da BR 319, apartada da civilização por lentas balsas e miríades de buracos de onde surgem caminhões de gelo a levar seu pescado, às vezes toneladas, chacoalhando, para a capital.
Ficamos dois dias, muito pouco. Precisaríamos de mais tempo para conhecer o rio, a vegetação, os caminhos por onde passam as vidas do povo de Igapó-açu, animadas pelo vai e vem das águas, barcos e raros passantes, uns doidos, como costumam falar.
A sexta Roda de Passarinho foi compenetrada. As crianças conheciam muitas aves e também vários dos animais que apresentamos: puma, quati, tatu, serelepe.
Envolveram-se na História do Rio das Furnas, da SPVS, Santa Catarina, canyons e serras, como num faz-de-conta. Afinal, estivemos ali tal e qual os personagens daquela estrada, sempre no rumo do nunca mais da distante civilização.
Seguimos viagem com um nó na garganta, ouvindo a choradeira do Gustavo, que, do colo da mãe, aos soluços, implorava ir com a gente. Então houve silêncio.
Seu Antonio disse: conheçam a Dona Maria do Vestidão que vive no km 300 com o marido, Seu João e o filho Ismael. Seu recanto é parada de pesquisadores e acolhida certa para viajantes, ao lado de um igapó onde banha-se de lindeza, transparência e frescor.
Sucuri tinha, mas não apareceu. Ali percorremos um trecho de pura floresta amazônica na compenetrada companhia de Ismael e conhecemos a arte do equilíbrio em troncos roliços sobre igarapés.
Dali fomos ao Seu Paulo - o guerreiro - Dona Graça e a filha Marilane de 3 anos, no km 350. Rio Novo.
Após dias de pescaria a alegria vem com o Tucunaré (Cichla spp). Foto Renato Rizzaro
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Aqui a comunidade se reune. Foto Gabriela Giovanka |
Aves do Pantanal vão parar no Amazonas. Foto Renato Rizzaro |
Duas lindezas na Roda de Passarinho. Foto Renato Rizzaro
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A professora Neri e Seu Antonio do Boto juntos com a turma da escola. Foto Renato Rizzaro Roda de Passarinho representada por uma aluna. |
Sempre temos um cantinho para pousar com a Tokynha. Foto Renato Rizzaro |
A balsa de Igapó-açu na BR319. Foto Gabriela Giovanka |
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